Resumo: Este artigo analisa o absolutismo como sistema político dominante na Europa entre os séculos XVI e XVIII. Apresenta o contexto de transição do feudalismo para o poder centralizado nas mãos dos monarcas, descreve as principais características do absolutismo, como a teoria do direito divino e o controle dos exércitos, e examina os pensadores que legitimaram esse modelo. Além disso, explora exemplos históricos, as críticas ao absolutismo e o seu legado nas transformações políticas da modernidade.
Introdução
O absolutismo foi um modelo de governo que marcou profundamente a Europa Moderna, principalmente entre os séculos XVI e XVIII. Nesse sistema, o poder político encontrava-se concentrado nas mãos do rei, que governava com autoridade quase ilimitada, sob o argumento de que seu direito ao trono era concedido por Deus.
Compreender o absolutismo é essencial para interpretar as transformações que antecederam a Revolução Francesa e o surgimento dos ideais modernos de democracia e cidadania. Este artigo analisa o contexto histórico, as características centrais do absolutismo, os pensadores que o justificaram, os principais exemplos históricos e as razões para seu declínio.
Contexto histórico do absolutismo: Da fragmentação feudal ao poder absoluto
Durante a Idade Média, o poder político era amplamente descentralizado, com a autoridade dos senhores feudais se sobrepondo à dos reis em muitas regiões. Esse cenário começou a mudar com o declínio do feudalismo, provocado por fatores como o crescimento das cidades, o renascimento comercial, o surgimento da burguesia e as transformações no campo após epidemias e conflitos prolongados.
Com o enfraquecimento da nobreza feudal, a ascensão da burguesia e a necessidade de um governo forte que garantisse a ordem, os monarcas viram uma oportunidade de consolidar seu poder. O apoio dos setores urbanos foi fundamental para que os reis assumissem o controle dos exércitos, da justiça e da cobrança de impostos. A formação de exércitos permanentes e de burocracias estatais foi um passo decisivo nessa centralização.
Conflitos religiosos, como os decorrentes da Reforma Protestante, também contribuíram para o fortalecimento dos monarcas. Em meio à instabilidade, os reis se apresentavam como defensores da unidade e da paz. Em alguns casos, o absolutismo emergiu como uma resposta à necessidade de controle e coesão diante de guerras civis e disputas entre facções religiosas.
Além disso, a crescente importância do comércio e da colonização levou à necessidade de um Estado forte que regulasse a economia, controlasse os impostos e garantisse a exploração dos recursos das colônias, o que favoreceu o fortalecimento do poder monárquico.
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Características do absolutismo
- Centralização do poder: o rei detinha os três poderes (executivo, legislativo e judiciário), sem divisão ou limites institucionais claros.
- Teoria do direito divino dos reis: a autoridade real era considerada sagrada e incontestável, pois provinha de Deus.
- Exército permanente: os reis controlavam tropas profissionais, o que lhes dava poder militar sobre os senhores feudais.
- Burocracia estatal: funcionários a serviço direto do monarca passaram a administrar os assuntos do Estado.
- Economia mercantilista: o Estado absolutista adotou políticas econômicas intervencionistas, voltadas para o fortalecimento do poder nacional e o acúmulo de riquezas.
O absolutismo também se sustentava em símbolos do poder real, como palácios suntuosos, a exemplo de Versalhes, na França, e na prática do mecenato artístico para reforçar a imagem do rei como figura central da nação.
Teorias que sustentaram o absolutismo
Diversos pensadores elaboraram argumentos para justificar a concentração do poder real. Os mais influentes foram:
- Jean Bodin: filósofo francês que defendia a soberania do Estado como necessária para manter a ordem e a unidade.
- Jacques Bossuet: teólogo francês que desenvolveu a teoria do direito divino dos reis, segundo a qual os monarcas eram escolhidos por Deus e só a Ele deviam obediência.
- Thomas Hobbes: filósofo inglês autor da obra Leviatã, onde argumenta que os seres humanos, em seu estado natural, vivem em guerra constante, sendo necessário um poder soberano forte (o Leviatã) para garantir a paz e a segurança.
Essas ideias forneceram a base ideológica para a legitimação do absolutismo em diferentes contextos europeus.
Exemplos de absolutismo na Europa
O absolutismo teve diferentes expressões na Europa. Destacam-se:
França – Luís XIV
Conhecido como o “Rei Sol”, Luís XIV (1643–1715) é considerado o maior representante do absolutismo. Seu governo simbolizou o poder absoluto do monarca, sintetizado na frase “O Estado sou eu”. Centralizou a administração, enfraqueceu a nobreza, fortaleceu o exército e promoveu o mercantilismo como política econômica.
Inglaterra – Absolutismo limitado
Na Inglaterra, o absolutismo encontrou limites com a Revolução Gloriosa de 1688, que resultou na monarquia parlamentarista e na Declaração de Direitos de 1689 (Bill of Rights), restringindo o poder real e fortalecendo o Parlamento.
Portugal – Dom João V
Dom João V (1706–1750) simboliza o absolutismo em Portugal. Seu governo foi marcado pelo uso intensivo do ouro brasileiro para fortalecer o poder real e construir obras grandiosas, como o Convento de Mafra.
Espanha – Os Habsburgos
Na Espanha, os reis da dinastia Habsburgo, como Carlos V e Felipe II, foram grandes representantes do absolutismo ibérico, apoiando-se na aliança entre o trono e a Igreja.
Críticas e declínio do absolutismo
A partir do século XVIII, o absolutismo passou a ser duramente criticado por pensadores do Iluminismo, como Montesquieu, Rousseau e Voltaire, que defendiam a separação dos poderes, a liberdade individual e a soberania popular.
A crise econômica, os altos impostos e o descontentamento popular também contribuíram para o fim dos regimes absolutistas, culminando em eventos revolucionários como a Revolução Francesa (1789).
Legado e importância histórica
Apesar de sua queda, o absolutismo foi fundamental para a consolidação dos Estados nacionais modernos, estabelecendo os alicerces das administrações centralizadas e da noção de soberania estatal. Também permitiu o florescimento das artes, da ciência e da arquitetura, impulsionadas pelo apoio régio.
O absolutismo deixou marcas profundas na organização política ocidental e na forma como os poderes do Estado foram posteriormente concebidos e divididos.
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Conclusão
O absolutismo representou uma fase crucial da História Moderna europeia. A centralização do poder nas mãos do monarca possibilitou a criação dos Estados modernos e a organização administrativa de longa duração. Contudo, a ausência de participação política e os abusos de poder geraram críticas que culminaram em profundas transformações sociais e políticas nos séculos seguintes.
Estudar o absolutismo é essencial para compreender os processos de transição entre o feudalismo e o capitalismo, entre a monarquia e a democracia. Esse conhecimento fornece as bases para o entendimento de estruturas políticas contemporâneas e das lutas históricas por liberdade e justiça.
Referências bibliográficas
- BOURNE, Henry. O estado absolutista na Europa. São Paulo: Ed. Unesp, 1994.
- DUBY, Georges. A Europa na Idade Média. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
- FUNARI, Pedro Paulo. Antiguidade clássica. São Paulo: Contexto, 2006.
- HOBSBAWM, Eric. A era das revoluções: 1789-1848. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003.
- LE GOFF, Jacques. O nascimento da Europa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.
Autor: Paulo Henrique Pereira Ferreira.
Professor de História. Licenciado em História pela UEL. Especialista em Docência e Prática do Ensino de História.
Como citar este artigo:
FERREIRA, Paulo Henrique Pereira. O absolutismo. Blog Educar História, [s.d.]. Disponível em:
https://educarhistoria.com.br/o-absolutismo/. Acesso em: 10 maio 2025.
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