Resumo:
A Era Vargas, compreendida entre 1930 e 1945, foi um período crucial na história do Brasil, marcado por grandes mudanças políticas, econômicas e sociais. Esse período começou com a Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder, e se estendeu até 1945, quando Vargas foi deposto e a ditadura do Estado Novo chegou ao fim. A centralização do poder, as reformas trabalhistas e o fortalecimento do Estado brasileiro caracterizaram esse período. A Era Vargas também representou a construção do Estado moderno e o início da industrialização no país.
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- A Revolução de 1930: O Fim da República Velha
- A Era Vargas: O Estado e a Construção do Brasil Moderno (1930–1945)
- Governo Provisório (1930–1934)
- A Revolução Constitucionalista de 1932
- Governo Constitucional (1934–1937)
- As Leis Trabalhistas e a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT)
- O Estado Novo (1937–1945)
- O Fim da Era Vargas (1945)
- Conclusão: O Legado da Era Vargas
- Referências Bibliográficas
A Revolução de 1930: O Fim da República Velha
A Revolução de 1930 foi um dos marcos mais importantes da história brasileira do século XX. Ela significou a queda da República Velha e o fim do domínio das oligarquias agrárias, que governavam o Brasil com base no sistema da “política do café com leite”, caracterizado pela alternância de poder entre São Paulo e Minas Gerais. A crise econômica mundial de 1929, com a quebra da Bolsa de Nova York, agravou ainda mais os problemas da economia brasileira, que dependia fortemente da exportação do café.
Getúlio Vargas, então governador do Rio Grande do Sul, se opunha ao sistema oligárquico e à política de alternância de poder. Sua candidatura à presidência da República, em 1930, foi derrotada nas urnas por Júlio Prestes, candidato da situação, mas a eleição foi marcada por denúncias de fraude eleitoral. A situação foi ainda mais agravada pelo assassinato de João Pessoa, vice na chapa de Vargas. Esse evento gerou uma grande comoção nacional e foi o estopim para a Revolução de 1930.
Com apoio de militares, civis e setores populares, Vargas depôs o presidente Washington Luís e assumiu o poder, abrindo um novo capítulo na história política do Brasil. A Revolução de 1930 foi um golpe contra o sistema político oligárquico e inaugurou uma nova era de centralização política e reformismo, com a promessa de modernizar o país e dar mais voz aos trabalhadores urbanos.
A Era Vargas: O Estado e a Construção do Brasil Moderno (1930–1945)
A ascensão de Getúlio Vargas ao poder marcou o início de uma série de mudanças políticas, sociais e econômicas que transformariam o Brasil. A chamada Era Vargas abrange o período de 1930 a 1945 e é considerada uma das fases mais importantes na construção do Estado moderno no Brasil. Durante esse período, o país passou por uma centralização do poder no Executivo, uma reformulação das relações trabalhistas e o fortalecimento do Estado na economia.
Governo Provisório (1930–1934)
Após a Revolução de 1930, Vargas assumiu a presidência de forma provisória, sem eleições, e implementou uma série de reformas para consolidar seu poder. O governo provisório começou com a dissolução do Congresso Nacional e a destituição de governadores, sendo substituídos por interventores nomeados pelo governo central. Vargas buscava, com isso, centralizar o poder no Executivo e garantir maior controle sobre os estados.
Durante esse período, o governo Vargas começou a reformar as instituições políticas e sociais. Em 1931, o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio foi criado, com o objetivo de regular a relação entre empregadores e empregados. A centralização política foi um dos pilares do governo provisório, mas não foi bem aceita por todos os setores da sociedade, especialmente por São Paulo, que perdeu o protagonismo político após a Revolução de 1930.
Em resposta a essas insatisfações, Vargas implementou algumas medidas para suavizar a situação, como a criação de um programa de benefícios aos trabalhadores e a aproximação com a classe operária. Essa estratégia começava a moldar a imagem de Vargas como um líder popular e defensor dos direitos dos trabalhadores.
A Revolução Constitucionalista de 1932
Em 1932, um movimento armado conhecido como a Revolução Constitucionalista eclodiu em São Paulo, com o objetivo de derrubar o governo provisório de Vargas e exigir a convocação de uma Assembleia Constituinte. Os paulistas sentiam-se marginalizados pelo governo central e estavam insatisfeitos com a falta de representação no novo governo. Com o apoio da população e até com a formação de um exército próprio, o Exército Constitucionalista, os revoltosos tentaram tomar o poder.
A Revolução Constitucionalista, apesar de contar com forte mobilização e apoio militar, foi derrotada pelas forças de Vargas em um conflito que durou cerca de três meses. No entanto, Vargas, pressionado pela revolta e pela popularidade do movimento, cedeu e convocou eleições para a formação de uma nova Assembleia Constituinte, o que culminou na promulgação da Constituição de 1934.
Governo Constitucional (1934–1937)
Com a promulgação da Constituição de 1934, o Brasil passou a ter um regime constitucional, mas Vargas manteve forte controle sobre o processo político. A Constituição de 1934 foi um marco importante, pois estabeleceu algumas inovações no sistema político e ampliou direitos para a população, como o voto secreto e o voto feminino. A inclusão das mulheres no processo eleitoral foi uma das grandes conquistas desse período.
Além disso, a Constituição de 1934 também estabeleceu leis trabalhistas e criou o Justiça Eleitoral, fortalecendo a democracia no Brasil. No entanto, o governo de Vargas continuou a ser marcado pela centralização do poder, principalmente por meio do controle sobre os sindicatos e a economia. A política trabalhista foi intensificada, com a criação de mecanismos de controle sobre os trabalhadores, mas também com a promessa de benefícios sociais, como a criação do Ministério do Trabalho, que passaria a organizar as relações de trabalho no país.
As Leis Trabalhistas e a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT)
Durante o período constitucional e especialmente no Estado Novo, Getúlio Vargas construiu sua imagem como o “pai dos pobres”, por meio de políticas públicas voltadas ao trabalhador urbano. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), sancionada em 1943, foi um dos principais marcos desse processo.
A CLT estabeleceu direitos trabalhistas fundamentais, como a criação da carteira de trabalho, a jornada de 8 horas, o salário mínimo, férias remuneradas, além de regulamentar o trabalho feminino e infantil. Esses direitos representaram uma verdadeira revolução para os trabalhadores, mas também tinham um caráter de controle social, já que os sindicatos passaram a ser subordinados ao Estado, sem liberdade para se organizar de forma autônoma.
Esse modelo de “tutela” dos trabalhadores foi uma estratégia para garantir o apoio da classe operária ao regime, mas também dificultou a formação de uma verdadeira democracia sindical no Brasil. Ao mesmo tempo, Vargas centralizava o poder e consolidava seu projeto político autoritário.
O Estado Novo (1937–1945)
Em 1937, Vargas deu um golpe de Estado, com apoio das Forças Armadas e de setores conservadores, e instaurou o regime do Estado Novo. Esse período foi caracterizado por uma ditadura que durou até 1945 e foi inspirada em regimes fascistas europeus, como o de Mussolini na Itália. O pretexto para o golpe foi a existência de um suposto plano comunista, o “Plano Cohen”, que nunca foi comprovado.
Com o fechamento do Congresso Nacional, a criação de uma nova Constituição autoritária e o fim das eleições, Vargas consolidou ainda mais o poder nas mãos do Executivo. Durante o Estado Novo, o governo censurou a imprensa, reprimiu movimentos sociais e políticos de oposição, como os comunistas e anarquistas, e instituiu um sistema de propaganda que exaltava a figura de Vargas como líder nacionalista.
Paradoxalmente, o Estado Novo também foi um período de grande crescimento para a infraestrutura do país. O governo investiu em grandes obras públicas, como a construção de usinas hidrelétricas, estradas e indústrias, além de criar empresas estatais estratégicas, como a Companhia Siderúrgica Nacional em 1941, com o objetivo de fortalecer a indústria nacional.
O Fim da Era Vargas (1945)
Com o fim da Segunda Guerra Mundial e a derrota dos regimes totalitários, o Brasil passou a viver um momento de crescente pressão pela redemocratização. Getúlio Vargas, que tentava se manter no poder, foi finalmente forçado a renunciar em 29 de outubro de 1945, após a intervenção das Forças Armadas. Essa renúncia pôs fim à Era Vargas, mas não à sua influência política.
Vargas sairia do poder com uma imagem de grande prestígio popular e retornaria à presidência em 1951, agora eleito pelo voto direto. Sua figura continuou a ser central para o cenário político brasileiro nas décadas seguintes, evidenciando a duradoura influência de sua gestão na história do Brasil.
Conclusão: O Legado da Era Vargas
A Era Vargas foi um período de profundas mudanças no Brasil, marcado pela centralização do poder, pela construção do Estado moderno e pelas reformas sociais e trabalhistas. Apesar das limitações democráticas e da repressão política, Vargas conseguiu modernizar a economia brasileira, promover o desenvolvimento industrial e consolidar o Estado como um agente ativo na sociedade. A centralização política, a criação da CLT e o fortalecimento das empresas estatais foram legados importantes dessa fase.
No entanto, a Era Vargas também é um período de contradições, com a imposição de uma ditadura, a falta de liberdades políticas e o controle dos sindicatos. O fim da Era Vargas não significou o fim de sua influência política, que continuaria a moldar o país nos anos seguintes.
Referências Bibliográficas
- FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1999.
- SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloisa M. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
Autor: Paulo Henrique Pereira Ferreira.
Professor de História. Licenciado em História pela UEL. Especialista em Docência e Prática do Ensino de História.
Como citar este artigo:
FERREIRA, Paulo Henrique Pereira. Era Vargas (1930–1945). Blog Educar História, [s.d.]. Disponível em:
https://educarhistoria.com.br/era-vargas-1930-1945/. Acesso em: 10/05/2025.
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